Familiares de desaparecidos políticos, militantes de causas ligadas aos direitos humanos e parlamentares participaram nesta quinta-feira (21) de uma sessão solene na Câmara dos Deputados em homenagem ao Dia Internacional do Direito à Verdade.
Em seu discurso, a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) cobrou providência para que famílias de desaparecidos políticos tenham direito a enterrar seus parentes. “Onde estão os 434 desaparecidos políticos? Onde vocês puseram seus restos mortais para que possamos enterrá-los?”, cobrou a deputada, ao se referir aos desparecidos políticos reconhecidos pela Comissão da Verdade.
“Lembro com indignação o fato de que os poderes da República nada fizeram para dar cumprimento a uma única das 29 recomendações constantes do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, frustrando, assim, a justa expectativa da sociedade brasileira quanto a revelação da verdade e sobre os crimes de lesa humanidade, praticados durantes os longos e tenebrosos 21 anos do regime militar no Brasil, sem qualquer punição aos comprovadamente responsáveis por tais crimes. Décadas após décadas, os responsáveis fazem ouvidos moucos aos que clamam por justiça”, destacou a parlamentar.
“Nesse Dia Internacional da Memória da Verdade e da Justiça, falta Justiça. Nenhum dos torturadores subiram ao tribunal. Estamos aqui por aqueles e aquelas que não têm voz, injustiçados pelos processos que ainda não foram julgados”, disse Gilney Viana, representante de presos e desaparecidos políticos.
“Para nós familiares, para nós ex-presos políticos atingidos pela ditadura militar, é importante que o país inteiro saiba o que aconteceu. Alguns agentes do Estado acham que foram suficientes, a Comissão de Anistia, a Comissão da Verdade, isso não é suficiente, mesmo porque todo esse processo está inacabado”, acrescentou. Ainda Segundo Viana, só indígenas são 8,5 mil desaparecidos, além de 1.000 camponeses que não foram reconhecidos pela Comissão da Verdade.
Marielle
Na sessão, a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL), reconhecida como defensora dos direitos humanos, e o motorista Anderson Gomes, assassinados no último dia 14, também foram lembrados e homenageados.
“Autoridades brasileiras não devem só a mim o que aconteceu com a minha mulher porque isso não vai trazê-la de volta. Devem ao mundo o respeito e a satisfação do que aconteceu nesse crime bárbaro, porque Marielle resiste nas nossas vidas e corpos. Ela lutava pelos pretos, pelos favelados, pelos LGBTs”, disse a companheira de Marielle, Mônica Benício, durante a solenidade.
A irmã da vereadora, Anielle Silva, também discursou na cerimônia. “A única maneira que eles tinham de calar a minha irmã era matando. Um crime covarde, muito bem-feito, mas que a gente espera e urge por justiça”, disse Anielle Silva. “Você pode me matar com seu ódio, mas, ainda assim, eu me levanto”, afirmou, citando a escritora e militante dos direitos civis norte-americana Maya Angelou
Histórico
Celebrada pela primeira vez no Brasil, a data comemorativa oficial do Dia Internacional do Direito à Verdade, criada para lembrar graves violações aos direitos humanos e a dignidade das vítimas, é 24 de março, e foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2010, para relembrar o dia em que foi executado com um tiro no peito o bispo Dom Oscar Romero, enquanto celebrava uma missa, em El Salvador.