A falsa corretora de imóveis e o marido dela, presos nesta semana no DF após faturarem R$ 1 milhão com estelionato, têm histórico de golpe anterior fora da capital federal. Fontes ouvidas pelo Jornal de Brasília revelaram que Fernanda Fonseca da Cruz, 33 anos, e Thiago Melo, 34, saíram às pressas de São Paulo para Brasília após arrecadarem dinheiro em uma falsa vaquinha. Fernanda teria fingido estar em tratamento de câncer para angariar fundos entre os colegas de profissão do marido.
Thiaguinho Brasília, como era conhecido, ingressou na modalidade ainda na categoria de base pelo time Monte Líbano. No Pinheiros, time que passou boa parte de sua carreira, ele disputou como armador três temporadas do Novo Basquete Brasil (NBB), de 2008 a 2011. Depois disso, não jogou mais.
O golpe aplicado na equipe ocorreu no último ano em ele que esteve em quadra. Nos bastidores do esporte, as informações são de que Thiago mentiu contou uma história de que a esposa estava com câncer, mas o casal estava sem dinheiro para custear o tratamento. O time conseguiu ajudá-los, mas os dois vieram fugidos para Brasília – cidade natal do atleta. Não há informações de qual foi a quantia total levantada por meio da falsa vaquinha.
Segundo a Liga Nacional de Basquete (LNB), nenhum processo foi aberto por conta do episódio. A liga sequer chegou a ser acionada oficialmente sobre o caso, mas confirma o ocorrido. Em nota, o Esporte Clube Pinheiros afirmou que Thiago teve vínculo com o time de 31 de janeiro de 2009 a 8 de setembro de 2011. O clube não confirmou o motivo do desligamento do atleta.
A reportagem procurou a advogada de Fernanda e Thiago, que tenta tirá-los da prisão por conta do golpe imobiliário. Janaína Ferreira Passos informou apenas que seus clientes ainda estão presos, mas que j
á entrou com um pedido de liberdade provisória. Questionada sobre o golpe em Pinheiros, a advogada resumiu que está cuidando somente da acusação registrada no DF.
Clientes pagaram, mas não levaram
Os anos se passaram e, agora, Fernanda está no centro de um golpe ainda maior. Com oito vítimas no Distrito Federal, a falsa corretora conseguiu faturar R$ 1 milhão com as fraudes imobiliárias. De uma única vítima, ela obteve R$ 400 mil. Outra, após insistir pelo imóvel, chegou a se mudar para residência que acreditou ter comprado.
De acordo com o delegado da Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Propriedade Imaterial e a Fraudes (Corf), Marcelo Portela, a maioria das vítimas tinha baixo poder aquisitivo. “Um imóvel é o bem mais valioso que uma pessoa comum pode adquirir. Identificamos vítimas que trabalharam a vida inteira, retiraram o FGTS e perderam todo o dinheiro nessa transação”, destaca o delegado.
A vítima que desembolsou R$ 400 mil, porém, era uma exceção. Ela iria comprar um imóvel de alto padrão. “Era uma residência de mais de R$ 1 milhão. Os R$ 400 mil foram exigidos como sinal”, afirma Portela.
A outra vítima também depositou o sinal, e, por isso, pressionou para que a chave fosse entregue. “Por ter acesso aos apartamentos, a corretora cedeu a chave. A vítima havia até se mudado, mas o proprietário real não foi informado de que o imóvel havia sido negociado”, completa.
Fernanda atuava desde o fim de 2016. A demora para que as denúncias surgissem se deve ao prestígio da imobiliária a qual a corretora representava. A empresa não teve o nome divulgado por também ser tratada como vítima do golpe. “Após recebimento do sinal, o contrato não ia para frente. Ela apresentava falsos contratos e sempre ficava iludindo as pessoas. Pedia para que não procurassem a polícia, que não se desesperassem, em decorrência da credibilidade que a imobiliária tem no mercado”, conta o delegado da Corf.
Após denúncias, a empresa fez um processo de auditoria interna, vasculhou os negócios intermediados por Fernanda e descobriu todas as vítimas.
Freelancer
A falsa corretora não tinha vínculo empregatício com a imobiliária, trabalhava apenas como freelancer. “Por isso ela tinha a carteira de clientes e de imóveis à disposição. A imobiliária também foi vítima dessa corretora. Estamos investigando uma possível participação de alguns dos corretores, mas até agora nada foi identificado”, acrescenta Portela.
Ao firmar contrato de trabalho, a estelionatária teria alegado que o número de registro dela no Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci) estava em processo de transferência do Mato Grosso do Sul para o DF. No entanto, passou a utilizar nos negócios números de registros desativados ou pertencentes a outras pessoas. Fernanda nunca foi, efetivamente, vinculada a qualquer Creci.
De acordo com o delegado, ainda não é possível dizer qual foi o caminho que o dinheiro percorreu. A mulher será indiciada por oito estelionatos, e Thiago, quatro. “Representa a quantidade de transferências feitas para a conta dele”, explica. Além de depósitos bancários, algumas vítimas fizeram o pagamento em dinheiro vivo. Nesses casos, segundo Portela, será mais difícil recuperar as quantias.