Em entrevistas sobre os vários trabalhos que realizaram junto ao ator/galã George Clooney, Ethan e Joel Coen têm uma opinião ao mesmo tempo firme e cômica acerca do modo como eles o enxergam, despido daquela aura de beleza clássica hollywoodiana que remete a uma austeridade vista em figuras como Clark Gable ou Gregory Peck. Basicamente, os Coen, em sua escrita de personagens, o enxergam apenas como um completo idiota.
É com a feliz percepção de estarmos diante de um produto semelhante no desenvolvimento de seu co-protagonista que encara-se o adocicado (quase diabético, na verdade) Ingresso para o Paraíso, filme que, apesar de não ter qualquer relação com o talento dos irmãos citados, traz, por parte do seu diretor e co-roteirista Ol Parker, a bem-vinda mesma intenção de deslocar Clooney de sua figura de olhar sedutor e grisalhos magnéticos.
Casal eterno
O resgate aqui, porém, não se trata de nenhuma missão no nível “sequestro da filha do Liam Neeson”. É algo mais no nível Steve Martin sendo O Pai da Noiva (1991), ou Spencer Tracy, no clássico homônimo de 1950. Ao saber que a sua recém-formada advogada e bela filha se apaixonou perdidamente por um jovem empreendedor durante uma viagem a Bali ao ponto de ficar noiva e desistir de voltar para os Estados Unidos para iniciar sua bem sucedida carreira no Direito, David (Clooney) e Georgia (Roberts) seguem para o paraíso do título, deixando de lado os traumas da sua conturbada e já superada antiga vida conjugal e se unindo para tentar recuperar seu rebento.
Alguém aí duvida que, para além das brigas e acusações constantes, para além do namorado francês e romântico a níveis abobalhadamente alarmantes que Georgia arrumou, o ex-casal de meia idade vai acabar junto ao final? Creia, não é spoiler se você já viu qualquer comédia romântica envolvendo brigas cômicas entre um ex-casal ou entre amigos que se dão bem até demais (nesse caso, vide Harry & Sally, pra citar só um exemplo).
Clichê inofensivo
Como fiapo de história, Ingresso para o Paraíso se resume a isso: fazer-se valer da acidez dos diálogos entre seus dois protagonistas para, gradativamente, os vermos ceder ao romantismo de Bali, paraíso na Indonésia, além da percepção de que não conseguirão mudar a decisão de sua filha e à ideia de que, vinte anos depois, podem dar uma segunda chance a um possível novo relacionamento. Dentro desse mesmo fiapo, entretanto, as gags visuais envolvendo mordidas de golfinhos ou picadas de cobras venenosas, juntamente à já esperada competição de “quem bebe mais na festa da praia” (com direito a dancinha retrô no encontro de gerações e ao casal acordando de ressaca na mesma cama “sem lembrar o que aconteceu”), surgem como o já esperado clichê batendo cartão.
Diretor e roteirista da continuação de 2018 para o sucesso musical Mamma Mia! (2008), Ol Parker parece não se importar muito em manter sua carreira na direção de feeling good movies, uma vez que também roteirizou o simpático filme de terceira idade O Exótico Hotel Marigold (2011), bem como sua continuação de 2015.