Emocionadas, muitas com lágrimas nos olhos, as primeiras pessoas puderam contemplar o caixão da monarca, coberto pelo estandarte real e pela coroa imperial, no Westminster Hall, a parte mais antiga do edifício que abriga o Parlamento britânico.
Algumas pessoas dormiram até duas noites na rua, como Anne Daley, de 65 anos, a segunda pessoa da fila. “Abrir mão de duas noites de conforto por alguém que deu 70 anos de compromisso incansável ao mundo não é nada”, disse à imprensa.
“No interior, tudo estava tranquilo e muito emotivo. Muitas pessoas choravam, mas também havia um total silêncio”, disse à AFP Sue Harvey, contadora de 50 anos que viajou de trem do sul da Inglaterra.
“Agora me sinto melhor”, garantiu ao lado de Nina Kaistoffioson, uma artista de 40 anos, que também afirmou sentir-se “em paz” depois de se despedir da rainha. “Neste lugar, não tem como escapar da magnitude de quem ela era”, afirmava, reconhecendo ter se “emocionado muito”.
Durante os próximos cinco dias, centenas de milhares de britânicos e visitantes – até 750.000 segundo a imprensa – passarão por uma câmara-ardente aberta quase ininterruptamente até a madrugada de 19 de setembro, dia em que acontecerá o funeral de Estado na Abadia de Westminster e o enterro na capela George VI do Castelo de Windsor.
“Levem isso em conta antes de decidir vir ou trazer crianças”, alertou Downing Street, pedindo às pessoas se vistam “adequadamente” devido ao frio e à chuva que poderiam cair sobre Londres até segunda-feira.
“A noite foi bastante úmida, fria e molhada, mas eu tenho uma pequena cadeira e um guarda-chuva grande, então fiquei bem seco. Melhor que os outros!”, brincou Dan Ford, policial aposentado de 52 anos, que chegou na terça-feira à tarde com luvas e gorro.
Procissão a partir de Buckingham
A monarca morreu na última quinta-feira, aos 96 anos, quando passou o final do verão na sua residência escocesa em Balmoral, portanto as primeiras homenagens aconteceram por lá no início da semana.
O caixão, coberto com o estandarte real, uma coroa de flores brancas e a imponente coroa imperial, adornada com diamantes e pedras preciosas, foi puxado por cavalos.
Avançou por 40 minutos pelo centro de Londres, acompanhado a pé pelo rei Charles III, 73, e seus irmãos Anne (72), Andrews (62) e Edward (58). Os filhos do monarca, William e Harry, seguiam atrás.
A procissão caminhou ao ritmo das marchas fúnebres de Beethoven, Mendelssohn e Chopin, executadas por bandas da Guarda Escocesa e da Guarda Granadeiro.
“Funeral do século”
Mais de 100 chefes de Estado e Governo devem comparecer ao funeral, incluindo o presidente americano, Joe Biden, o rei da Espanha, Felipe VI, o imperador do Japão, Naruhito I, e o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, além de representantes de vários países latino-americanos.
O enterro da soberana que conheceu 15 primeiros-ministros – o primeiro, Winston Churchill, nascido em 1874 e a atual, Liz Truss, nascida em 1975 – acontecerá no mesmo dia no Castelo de Windsor em uma cerimônia privada, confirmando o fim de uma era.
Ao mesmo tempo, Charles III assume o poder, mas seus primeiros passos também provocam polêmica, como durante a visita de terça-feira à Irlanda do Norte, parte de uma viagem pelas nações do Reino Unido que terminará na sexta-feira em Gales.
Imagens divulgadas mostraram o novo rei irritado com uma caneta utilizada para assinar o livro de honra que parece perder a tinta. “Oh, Deus, eu odeio isso! (…) Eu não aguento essa maldita coisa””, disse o monarca.