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Os paradoxos da economia pós coronavirus

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Os últimos anos foram marcados por uma série de mudanças na economia brasileira. Várias mudanças foram implementadas pela equipe do presidente Temer e várias delas dependiam da agenda de reformas colocada pelo governo. A maior delas seria a reforma da previdência, que por muitos momentos sacudiu o mercado e acabou sendo consolidada no congresso no ano passado já no governo do presidente Bolsonaro. Várias outras medidas implantadas tiveram papel fundamental para que o ano de 2019 se encerrasse com um resultado muito melhor do que o esperado no começo.

Entretanto, tudo transcorria muito bem, até surgir a pandemia. Na prática, ela atingiu em cheio todas as decisões estratégicas e táticas das corporações e de governos. E não há qualquer parâmetro usual de previsibilidade. “Agora trabalhamos cenários de curto prazo, que são mais analisáveis”, afirma Reichardt. O futuro está suspenso.

O que virá depois, ainda está no terreno movediço da incerteza. O desemprego gerado deverá criar dificuldade para a recuperação da economia.

É consenso entre todos, que a retomada exigirá políticas públicas de ajuda que precisam ser assertivas e cirúrgicas, sem empurrar o País para um ambiente de areia movediça no âmbito fiscal. “O Brasil é resiliente”, diz a esse respeito Glauco Humai, da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). “Um País que mesmo nas adversidades consegue seguir em frente.”

A economia, de maneira geral, estará ruim e a retomada será gradual, porém com muitas oportunidades. Quem conseguir enxergar nichos, se transformar, pegará carona nessas oportunidades. Alguns dizem que vivemos uma guerra e, geralmente, o pós-guerra vem acompanhados de crescimento.

A economia vai ter de repensar seu modelo de distribuição de renda, do tamanho dos lucros das empresas e da relação da sociedade com o consumo. Um novo formato econômico, que não é o socialismo, mas me parece que vai ser uma transição forte do capitalismo atual. Ficou claro que o coronavírus mostrou-se agente de um limiar. Um objeto transformador.

A crise causada pela Covid-19 prevê novas regras nas relações comerciais, nos hábitos de consumo e no peso do Estado frente ao mercado. Servir sempre para servir bem. Esse é o novo mantra. Se há algo que este vírus ensinou ao varejo e a empresas de todos os tipos de produtos e serviços é que o atendimento terá de ser full para ser bom.

Confiança: “O consumidor vai ficar mais próximo das marcas que se mostraram solidárias durante a crise.” E isso se estenderá no relacionamento pós-pandemia.

Stay home: ficar em casa será o novo padrão. “Haverá priorização para o ambiente doméstico, os espaços para o home office.
Customização: dentro das tendências, o varejo deverá viver de forma mais contundente.  “A customização e a experiência do cliente vão mudar.”

Delivery de serviços: não apenas o delivery ou e-commerce de produtos irão se sedimentar. “Irão aumentar potencialmente as demandas por serviços a distância.”

Relacionamento: o novo patamar na relação consumidor-marca. Uma fronteira ainda nem de perto resvalada. “A sociedade observará mudanças na intensidade das formas de consumir e de se relacionar com as empresas”.

Solidariedade: cuidar do outro será o novo ativo para as marcas trabalharem. O autocuidado vai crescer e impulsionar o cuidado mútuo. “A onda da solidariedade vai se enraizar culturalmente”.

Vamos refletir: …Os choques econômicos deixam herança, recordações e feridas difíceis de serem esquecidas. É impossível pensar que essas experiências sociais, perdas humanas e cancelamento da vida não trarão consequências após o final da pandemia. Quanto mais longa for a crise, maiores serão os danos econômicos e sociais. Paradoxal, ou não, é que esse vírus explora as características da vida que nós mesmos buscamos. Superpopulação, turismo maciço, cidades imensas, viagens aéreas constantes, redes de fornecimento a milhares de quilômetros e uma extrema desigualdade na divisão da riqueza e nos sistemas de saúde públicos.

Pensando estrategicamente…“A epidemia traz uma mentalidade de tempos de guerra, mas uma mentalidade que une todo o planeta do mesmo lado. Os anos de guerra são períodos de uma grande coesão interior dos países e da preocupação pelos outros”, diz Robert J. Shiller, prêmio Nobel de Economia em 2013. E acrescenta. “Um efeito a longo prazo dessa experiência pode ser instituições econômicas e políticas mais redistributivas: dos ricos aos pobres, e com maior preocupação pelos marginalizados sociais e idosos”.

“Provavelmente a maioria das economias demorará de dois a três anos para voltar aos níveis de produção que tinham antes da epidemia”, diz a consultoria IHS Markit.

Por enquanto, a pandemia vive no presente. Acertar o futuro da economia soa complexo, porque ninguém sabe qual será seu custo humano e econômico final. Ainda que sempre existam otimistas.

Fonte: Diário de Uberlândia

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