O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. No Twitter, o chefe do Executivo afirmou que “cada vez mais o uso da cloroquina se apresenta como algo eficaz” e, sem se referir especificamente a ele, alfinetou coordenador do Centro de Contigência contra o Coronavírus em São Paulo, o infectologista David Uip, que recentemente foi contaminado pelo vírus.
“Dois renomados médicos no Brasil se recusaram a divulgar o que os curou da Covid-19. Seriam questões políticas, já que um pertence à equipe do governador de SP?”, questionou Bolsonaro. Uip ficou afastado desde o dia 23 de março, quando anunciou que o exame para coronavírus deu positivo. Na última terça-feira (7/4), um dia depois de voltar ao trabalho, foi questionado em entrevista coletiva se havia feito o uso da cloroquina no tratamento, mas se recusou a informar. “Não faço isso para esconder nada, mas não quero transformar meu caso em modelo para coisa alguma”, disse.
As publicações foram feitas por Bolsonaro pouco antes de se reunir com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Em entrevista na última terça (7/4), Mandetta afirmou que ainda precisa de tempo antes que o órgão federal possa recomendar o uso amplo do medicamento contra a Covid-19, para ter certeza que se trata de algo bom ou se pode ter efeito colateral. O ministro afirmou, entretanto, que caso um médico queira receitar a um paciente, não há óbice algum, desde que o profissional se responsabilize. “Ninguém vai reter receita de ninguém”, disse.
No Twitter, Bolsonaro escreveu, ainda, que há 40 dias vem “falando do uso da Hidroxicloroquina no tratamento do COVID-19”. “Sempre busquei tratar da vida das pessoas em 1° lugar, mas também se preocupando em preservar empregos. Fiz, ao longo desse tempo, contato com dezenas médicos e chefes de estados de outros países”, pontuou.
O uso do medicamento para pacientes diagnosticados com Covid-19 é justamente um dos motivos de atrito entre o presidente e o ministro da Saúde. Enquanto Bolsonaro frisa, em diversos momentos, a importância do uso da hidroxicloroquina em pacientes infectados pelo novo coronavírus, Mandetta é reticente e fala sobre possíveis problemas que podem ser causados pelo medicamento, em especial em casos leves da doença.
O principal ponto de divergência entre o ministro e seu chefe é relativo ao isolamento: nos últimos dias, Bolsonaro vem frisando que não há necessidade para quarentena e pregando o chamado “isolamento vertical” (só para alguns grupos, como idosos e doentes crônicos). Mandetta, por outro lado, vinha falando que a orientação era para que as pessoas ficassem em casa, e chegou a falar que a população deveria seguir orientação dos governadores, que têm mais medidas restritivas de circulação de pessoas, como o fechamento de comércios.
O ápice dos desencontros se deu na última segunda-feira (6), quando O Globo publicou que o presidente iria exonerar Mandetta naquele dia. O mais cotado para assumir o cargo seria o deputado federal e ex-ministro da Cidadania, Osmar Terra (MDB-RS), com quem Bolsonaro almoçou em meio à possibilidade de queda de queda do ministro da Saúde. Na última terça-feira, Terra, que é médico, negou qualquer convite por parte do presidente em entrevista à Rádio Bandeirantes.
Fonte: Correio Braziliense