Dois homens morreram recentemente em Santos, litoral de São Paulo, devido à criptococose, conhecida popularmente como a doença do pombo. A criptococose é uma doença infecciosa adquirida por aspiração dos fungos Cryptococccus neoformans e Cryptococcus gattii, encontrados principalmente nas fezes de pombos urbanos, e que pode levar à morte.
Detectado também em fezes de morcegos, troncos de árvores e frutas secas, o fungo atinge primeiramente o pulmão, podendo infectar todo o corpo. A infectologista do Hospital Estadual de Doenças Tropicais dr. Anuar Auad (HDT), Dra. Christiane Kobal, explica que após a inalação dos esporos desse fungo, inicialmente o pulmão é comprometido e à medida que o fungo se desenvolve, ele consegue se espalhar em outros locais do corpo. “O fungo se propaga por meio da corrente sanguínea, podendo atingir o sistema nervoso e evoluir para meningite, uma complicação grave da criptococose”.
A médica destaca que o fungo Cryptococcus neoformans causa a doença preferencialmente em pessoas com sistema imunológico comprometido, como portadores do vírus HIV/Aids, pacientes com câncer, pessoas em tratamento com corticosteróides e com doenças autoimunes. “A outra forma do fungo é o Cryptococcus gattii, que afeta tanto pessoas saudáveis como pessoas com imunidade baixa, podendo se manifestar de forma mais grave”, explica.
Os sintomas da doença variam de acordo com o estado imunológico de cada pessoa, podendo ocorrer de dois dias a mais de 18 meses, sendo eles: dores de cabeça, febre, vômito, rigidez na nuca, alterações da visão, fraqueza, dor no peito, confusão mental, náusea, falta de ar, formigamento nos braços e nas pernas. Kobal ressalta que os sintomas são semelhantes a muitas outras doenças, como meningites bacterianas e virais, pneumonias, ou outras doenças infecciosas febris. “É recomendado que o paciente se dirija ao pronto socorro para que seja confirmado o diagnóstico, e assim, tratado com o medicamento antifúngico. A demora no diagnóstico e tratamento pode levar o paciente ao óbito bem como ocasionar sequelas neurológicas graves”.
Em 2018, o HDT atendeu 61 casos de pacientes com criptococose em Goiás. E neste ano já foram registrados dez casos. A doença passou a ser notificada pelo hospital a partir de 2013, com um total de 267 casos contabilizados até junho deste ano. É importante frisar, que a maioria dos casos de notificações da criptococose são relacionados à pacientes com HIV/Aids, por ser uma doença oportunista.
Precauções
Como a infecção é causada por fungos que se proliferam principalmente em fezes de aves, como as dos pombos, a infectologista alerta que o recomendado é evitar o contato com esses animais. “É orientado evitar alimentar e abrigar esses tipos de aves. Os locais onde houver o acúmulo de fezes devem ser limpos com água e cloro”, esclarece. O Ministério da Saúde também recomenda a utilização de equipamento de proteção individual, sobretudo de máscaras, na limpeza de galpões onde há criação de aves ou aglomerado de pombos.
Como se pega e transmissão
A transmissão é feita por contato direto com a pele infectada de um indivíduo e desenvolve-se em 3 fases:
- Estágio primário: Ao fim de 3-5 semanas depois de ter contacto com um indivíduo infectado, aparece na criança uma lesão na pele chamada de “bouba mãe”, semelhante a um nódulo ou verruga, de crosta amarelada, que aumenta de tamanho, tomando uma forma semelhante a uma framboesa. Na região pode haver coceira e inchaço dos gânglios linfáticos. Ela geralmente desaparece ao fim de 6 meses.
- Estágio secundário: Surge algumas semanas depois da primeira fase da bouba e caracteriza-se pelo aparecimento de lesões duras na pele do rosto, braços, pernas, nádegas e na planta dos pés, que dificultam o caminhar. Nesta fase também há inchaço dos gânglios linfáticos e podem surgir problemas nos ossos que causam dor nos ossos durante a noite.
- Estágio tardio: Surge cerca de 5 anos após começar a infecção e provoca lesões graves na pele, ossos e articulações, provocando dores nos movimentos. Nesta fase, a bouba também pode levar à destruição de partes do nariz, maxilar superior, céu da boca e faringe, desfigurando o rosto do indivíduo.
A bouba tem cura e raramente é fatal, porém os indivíduos podem ficar com deficiências graves no corpo quando não realizam o tratamento de forma adequada.
Sinais e sintomas
O sintomas da bouba podem ser:
- Feridas na pele amareladas, agrupadas em forma de framboesa;
- Coceira nos locais das feridas;
- Caroços na região do pescoço, virilha e axilas, devido ao inchaço dos gânglios linfáticos;
- Dor nos ossos e articulações;
- Feridas dolorosas na pele e sola dos pés;
- Inchaço da face e desfiguração quando a infecção iniciou há anos, sem nenhum tipo de tratamento.
O diagnóstico é feito com base na análise dos sintomas, exame físico e história recente de viagem a locais quentes e com pouco saneamento básico. Para confirmar o diagnóstico, o médico pode pedir um exame de sangue chamado antibiograma, para identificar a presença da bactéria que causa esta doença.
Tratamento
O tratamento da bouba consiste no uso de injeção de penicilina, dada em várias doses, dependendo da idade do paciente e da prescrição do médico. No caso de ser alérgico à penicilina, o paciente pode tomar eritromicina, cloridrato de tetraciclina ou azitromicina.
As lesões no estágio primário e secundário podem curar completamente, mas as alterações destrutivas que podem incluir perda do nariz, podem ser irreversíveis.