– O Vasco sempre foi muito importante para mim. Para minha família. Tive um primo que trabalhou como segurança aqui no Vasco. Eu sofri a lesão na minha estreia na luta contra a Valentina Shevchenko e quando dei uma entrevista para a ESPN conheci a Sônia Andrade (Vice-Presidente do Vasco) e quando ela viu o meu joelho, não tinha fisioterapia. Ela me convidou para tratar no Vasco, eu aceitei e comecei a chorar. Eu precisava desse tratamento. Lutar dentro do clube que eu amo é demais. Representar o meu time de coração é uma sensação inexplicável. Tenho certeza que vou sair vencedora dessa luta – disse Pedrita, completando que essa é a verdadeira estreia dela no UFC:
– Essa é a minha verdadeira estreia no UFC. O lutador sente quando vai dar bom e quando vai dar ruim. Na primeira luta eu não conseguia sentir. Todas as que eu venci, eu sentia que ia vencer e essa eu tenho certeza que vou vencer.
Pedrita em ação em São Januário (Foto: Rafael Ribeiro/Vasco)
Quem vê Pedrita nos dias atuais, forte e saudável, não imagina o quão difícil foi a vida da lutadora. O esporte começou cedo na vida dela, logo aos 10 anos, quando entrou para o vôlei do Fluminense. Foram cinco anos fazendo o trajeto de 40km de trem e ônibus entre Bangu e Laranjeiras até sofrer uma injustiça. A decepção fez com que a então levantadora Priscila tivesse depressão e largasse tudo, como ela mesmo conta:
– Eu participava do projeto Viva Vôlei e fui convidada para um teste no Fluminense. De 50 meninas, fui a única selecionada. Fiquei lá até os 15 anos e amava jogar vôlei. Até que em uma final contra o Flamengo, o treinador me sacou do time para colocar a reserva, que era filha de um diretor do esporte amador. Eu larguei tudo. Não tinha a quem recorrer. Comecei a usar drogas e ir para baile funk. O caminho nas drogas começou com maconha, depois loló, até cocaína e crack. Eu não consegui parar. O usuário sempre pensa assim “eu tenho controle, saio quando eu quero”. E foi nessa que me afundei. Cheguei a usar o crack, fiquei quatro anos usando o crack, eu era ‘cracuda’ mesmo, de frequentar a cracolândia. Quando eu me vi, estava em decadência e entregue – relembra Pedrita, que também falou sobre o dia em que renasceu:
Lutadora prometeu usar a bandeira do Vasco após a luta em Londres (Foto: Rafael Ribeiro/Vasco)
– Eu sempre ia para o lugar onde os usuários estavam, mas voltava pra casa. Até que um dia eu não voltei. Passou uma noite, minha mãe super preocupada, passou mais noites e nada. Minha mãe começou a me buscar. Eu queria ir embora e não conseguia. Estava presa lá. Eu já pedia a Deus para ir embora, já estava sem força, só a base de água. Teve um momento que vi um clarão entrar, nem conseguia ver o rosto e vi um vestido. Falei: “é minha mãe”. Todos os usuários fugiram e eu não tinha nem força. Ela veio na minha direção e quando eu olhei pra ela, ela sorriu, estendeu a mão e me levou pra casa. Me reergueu, deu um abraço e eu chorei muito.
No mesmo dia em que foi resgatada pela mãe, Pedrita recebeu um novo convite que mudaria sua vida. E da mesma pessoa que iniciou ela no mundo das drogas. No entanto, desta vez o caminho trilhou o rumo do esporte. A mesma amiga que a levou para conhecer a maconha, a chamou para um treino de Muay Thai. E a mão pesada de Priscila “Pedrita” Cachoeira foi descoberta ali. O treinador viu o potencial e passou a treinar o fenômeno e de quebra, ajudou demais na luta contra a dependência química. Era ele quem abria o CT para os treinos quando a vontade de usar droga batia na lutadora. E dentro do octógono, Pedrita nasceu de novo:
Pedrita bateu um papo com o Site Oficial do Vasco (Foto: Rafael Ribeiro/Vasco)
Nesse dia, eu saí de lá, fui pra casa e me recuperei. Tomei banho, comi e fui pra varanda. A mesma menina que me apresentou a maconha, passou e me chamou para o pólo onde estavam aberta as inscrições para aulas de Muay Thai. Eu fui. Nesse dia já me colocaram um capacete e uma caneleira e eu caí na porrada com uma menina que já fazia aula há cinco anos. A top. Virei um helicoptero. Não tinha técnica. Consegui tirar sangue dela. O Mestre parou, me olhou, bateu na minha testa e falou: “você vai ser a minha nova lutadora”. Dali eu comecei a sentir o gosto de viver. Comecei a treinar e sofri muita abstinência. Quando isso acontecia, eu ligava pra ele, ele abria o CT e me botava pra treinar. Eu suava e botava aquilo pra fora. Depois disso eu conseguia dormir, porque o primeiro mês foi muito difícil. Eu tremia, igual filme mesmo. O corpo pedia a substância. Consegui fazer lutas de Muay Thai, venci todas as lutas e recuperei aquilo que eu tinha lá no vôlei. Dentro do octógono eu renasci.