O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) deu o recado à ala política e até ao mercado sobre a falta de consenso por um nome para comandar o ministério de Minas e Energia. Ontem, o futuro chefe do Palácio do Planalto indicou o almirante de esquadra Bento Costa de Albuquerque Junior para a pasta. É o 20º ministro confirmado e o sétimo militar na equipe ministerial do primeiro escalão.
A indicação foi uma escolha a dedo de Bolsonaro e um aviso aos políticos de que a falta de acordo em relação ao nome de um ministro será resolvida por ele. Pelo menos três foram cotados: o economista Adriano Pires, diretor e sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie); o engenheiro Paulo Pedrosa, ex-secretário executivo de Minas e Energia; e o deputado Jaime Martins (Pros-MG).
Desde o desgaste com a bancada evangélica por sondagens a um ministro da Educação, Bolsonaro se prontificou em ouvir mais aliados e frentes parlamentares antes de tomar uma decisão. Nesta semana, recebeu deputados e senadores de diferentes frentes para conversar sobre indicações em diferentes ministérios. A ideia, porém, o frustrou pela falta de consenso. O mais cotado, Pedrosa, tinha o respaldo do mercado, mas não agradava a ala do MDB e do DEM, que era mais favorável a Adriano Pires.
A sugestão de Martins, embora agradasse a parte da ala política, não foi bem-recebida por analistas de mercado, que avisaram a equipe econômica do governo de transição. Se as sugestões do parlamentar, de Pires e Pedrosa não agradaram a parte do mercado e a congressistas, o mesmo não se pode dizer de militares. Membro da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, Pires foi elogiado por ala ligada às Forças. O mesmo valia para Pedrosa, que tem proximidade com militares por questões familiares.
Na dificuldade de um nome consensual, a solução foi lançar um militar. Consagrou-se, assim, o que pode se tornar um hábito de Bolsonaro nas próximas indicações. “Na dúvida entre técnicos e políticos, põe um militar”, diz um integrante do governo de transição. Ao mesmo tempo, a decisão prestigia a Marinha. Entre as Forças Armadas, era a única instituição que não tinha o comando de um ministério.
A Aeronáutica terá o controle da Ciência e Tecnologia, com o ministro Marcos Pontes, tenente-coronel da reserva. O Exército conta com cinco ministros, sendo dois generais do exército, Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Azevedo e Silva (Defesa); um general de divisão, Santos Cruz (Secretaria de Governo); e dois capitães reformados, Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) e Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União).
Ações
A opção por Bento não foi bem-recebida pelo mercado. A principal prova disso é que as ações ordinárias e preferenciais da Eletrobras caíram 4,11% e 2,39%, respectivamente. Mesmo com a decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), em revogar na quinta-feira a liminar que impedia o leilão da distribuidora da estatal em Alagoas, a Ceal, o mau humor foi a tônica na abertura do pregão.
O entendimento do mercado é que um militar no Ministério de Minas e Energia representa um perfil mais nacionalista e conservador, e não liberal, como defendem os investidores, explica o analista-chefe de cobertura de empresas da corretora de valores Spinelli, Glauco Legat. “Ser militar não o desqualifica, mas, teoricamente, não é uma pessoa pró-mercado. Não agrada aos agentes, porque se debatiam outros mais técnicos.”
A escolha, na prática, sinaliza o pé no freio no processo de venda de ativos da Eletrobras e outras estatais no setor elétrico. No entanto, a escolha foi coerente com o que diz Bolsonaro desde a campanha, de não privatizar toda a Eletrobras por ser uma empresa estratégica, avalia o cientista político Cristiano Noronha, vice-presidente da Arko Advice. “Foi uma forma de prestigiar a Marinha e equilibrar as Forças Armadas no primeiro escalão e manter o padrão de indicar um nome com algum entendimento técnico no setor”, avaliou. Bento é diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha.
Promessa de empenho
Aos 60 anos, o carioca Bento Albuquerque promete empenho para transmitir confiança e previsibilidade ao mercado e aos consumidores. Atualmente, ele ocupa o cargo de diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha. A trajetória que culminou na ascensão ao último posto da Força, almirante de esquadra, começou em 1973. Comandou a Força de Submarinos e foi chefe de gabinete do Estado-Maior da Armada. É pós-graduado em ciência política e gestão pública.