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Dia Nacional da Baiana – ‘Já nasci dentro do Dendê’

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Iracema de Souza OLiveira celebra o Dia da Baiana - Foto: Rafaela Araujo | Ag. A TARDE

Dona de um sorriso largo e espontâneo, uma alegria contagiante e simplicidade sem tamanho, carrega um verdadeiro dom e paixão que traduzem toda uma história de luta e muita perseverança transmitida por três diferentes gerações da mesma família. “Comecei a ser Baiana de Acarajé ainda na barriga de minha mãe. Minha avó também era. Sou a terceira geração delas. Já nasci dentro do dendê. Minha mãe era o alicerce da casa. Ela sustentou toda a nossa família fazendo acarajé. Meu amor pela profissão tem fortes raízes”.

Soteropolitana, criada no bairro de Itapuã ao lado de cinco irmãos, religião umbandista, Iracema de Souza Oliveira, hoje com 43 anos, casada e um filho, comemora com muita emoção, orgulho e sentimento de gratidão, o Dia Nacional da Baiana de Acarajé (25 de novembro) – data que em 2004 se tornou Patrimônio da Humanidade pelo Instituto do Patrimônio e Artístico Nacional – IPHAN e em 2012, reconhecida como Patrimônio Imaterial da Bahia e Patrimônio Cultural de Salvador, caracterizando e fortalecendo o trabalho das mulheres vendedoras de acarajé e outros quitutes na culinárias africana e baiana. O ofício da Baiana de Acarajé é regulamentado pela Lei Municipal 26.804, de 1º de dezembro de 2015.

“Ser Baiana de Acarajé é uma história muito linda de anos e anos, é algo cultural africano que representa luta, garra. Além do preparo, tem que ofertar, tem que usar os colares, as roupas brancas, o turbante. É todo um ritual que deve ser mantido e seguido. Temos que oferecer aos nossos orixás em cada produção. É um tipo de agradecimento ao nosso trabalho e para abrir os caminhos. Isso tudo é um legado que passou de minha avó para minha mãe e depois pra mim”, diz.

No mercado há mais de 30 anos, conhecida não somente na capital baiana, mas em outros estados, países e algumas cidades como ‘Acarajé da Vivi’ e atualmente incluindo o slogan ‘a estourada da Bahia’, tem nome batizado em homenagem à mãe, sua maior e principal inspiração. Iniciou a vida no tabuleiro aos 12 anos de idade, quando aprendeu todo preparo enquanto acompanhava Dona Vivi (Maria Vitória Souza) durante as vendas e ficava ali ao lado só observando como bater a massa, fazer o bolinho e fritar. Sendo que desde quatro, cinco anos, ia junto com ela para o ponto, onde na época ficava em praias e depois chegou até a frente do prédio Odebrecht, localizado ao lado do Jornal A Tarde, na Avenida Tancredo Neves. Muito nova, entregava os refrigerantes para os clientes e quando ficava com sono, um cantinho embaixo do tabuleiro era montado para que pudesse dormir. “Tenho uma história forte com o jornal A Tarde. Passa um filme na minha memória quando lembro. Mainha pedia para eu levar o acarajé para os funcionários do jornal. Eu ia e deixava na portaria. Nesse período tinha também o Desenbanco. A maior parte dos nossos clientes eram desses prédios”, conta Vivi.

Em 2001, após o falecimento da mãe, tudo parecia ter chegado ao fim. Sem perspectivas de futuro, desempregada, o marido com poucas condições no momento para arcar nas despesas da casa, assumiu de vez o trabalho e em 2002 passou a ocupar a Barraca da Vivi na praia de Piatã (Salvador), local que sua mãe havia deixado. ‘Eu tinha que escolher entre trabalhar ou trabalhar, pois senão ficaria sem ter o que comer. Não tive nem como estudar”, frisa. Nessa fase contava com a ajuda dos seus irmãos para colocar todo o material dentro do ônibus e poder chegar na praia. A irmã caçula Anaildes de Souza Ribeiro, 40 anos, sempre foi sua maior parceira. A partir daí recebeu o convite da Odebrecht para participar de um grande evento e logo foi descoberta por muitas pessoas e empresas. Uma delas foi a promoter Lícia Fábio, com quem aprendeu bastante, ouviu muitas dicas. Em seguida, diversas oportunidades foram aparecendo, como chegar até à Angola, Panamá, Venezuela, República Dominicana e cidades brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro, Tocantins, dentre outras, através de festas e eventos que era chamada para fazer.

“Os clientes perguntavam o que eu queria ser quando crescer e eu dizia: dentista. Mas o amor e o dendê estiveram desde sempre no sangue. O meu destino era mesmo seguir os passos de minha mãe e avó”, fala.

Com uma rotina e agenda já bastante movimentada, em 2007, abriu um espaço próprio no Hotel Catussaba (bairro de Stella Mares, onde inclusive mora também há 12 anos) e que comanda até hoje atendendo não somente um público de turistas, mas diversos clientes que não dispensam aquele acarajé depois de curtir um dia de sol no final de semana. “Esse ponto é meu coração fora do corpo, é o amor da minha vida”, ressalta. No ano de 2010, a Acarajé da Vivi foi indicada e ganhou o Prêmio Comer &  Beber da Revista Veja, a maior premiação da gastronomia no segmento de comidinhas, bares e restaurantes.

“Meus irmãos todos sabem fazer acarajé, mas somente eu e minha irmã Anaildes trabalhamos juntas até hoje mantendo a tradição e dando continuidade a essa trajetória. Ela é meu braço direito. Além de ficarmos no tabuleiro, vamos para todos os eventos. Sou grata demais por todo apoio que sempre me deu, por sempre estar ao meu lado em tudo”, diz.

Em seu tabuleiro pode ser encontrado abará, bolinho de estudante, cocadas, passarinha. Vendendo muitos acarajés por dia, tem seus segredinhos e capricho na hora do tempero, o que traz todo sucesso e diferencial em sua marca. “Amo comida baiana. Trabalho cantando. Com apenas 40min de preparo da massa, já coloco o bolinho do acarajé no fogo e todo mundo que experimenta, gosta. Meu diferencial é todo amor e dedicação que coloco na massa”, declara.

Origem do Acarajé

De língua africana iorubá, onde ‘akará’ quer dizer bola de fogo e ‘jé’ significa comer, ou seja, comer bola de fogo, o acarajé – tradicional bolinho característico do candomblé, é feito de feijão e frito em azeite de dendê. É um tipo de prato versátil que pode ser servido quente e acompanhado de camarão, vatapá, caruru, pimenta, salada. Segundo informações na Revista Eletrônica do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Cultural) tem sua origem por volta do século XVI quando os negros chegaram à Bahia com sua religião e costumes durante o período da escravidão. As primeiras baianas de acarajé eram escravas africanas alforriadas. – Jornal A TARDE de Salvador

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