A mãe do pedreiro Uilker Alves, de 28 anos, que confessou ter invadido uma igreja e esfaqueado quatro fiéis, disse que o filho tem esquizofrenia e pode ter agido após um surto. A costureira Eulice Maria Teixeira Alves, de 54 anos, afirmou que desmaiou ao receber a notícia sobre o ocorrido. Apesar disso e da tentativa de tirar o homem da prisão para poder interná-lo, ela condena a atitude dele, a qual classifica como “coisa do diabo”.
Ela e o ex-marido, Antônio Moreira Alves, de 57 anos, estão em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital, para tentar ajudar o filho, que foi preso logo após o ataque. Eles até contrataram a advogada Cláudia Barbosa de Resende Rodrigues para auxiliá-los. A profissional disse que “é muito cedo” para falar sobre uma tese de defesa.
O crime aconteceu na manhã de domingo (2), na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, no Setor Colina Azul. Distante 196 km dali, em Goianésia, região central de Goiás, onde mora com Uilker, Eulice revelou que passou mal ao saber do que o filho tinha feito.
“Ele falou para mim que ia para Brasília para trabalhar. Estou em estado de choque até agora. Uma amiga da minha filha me avisou. Quando ela mostrou a foto e vi que era ela, eu desmontei. Desmaiei e fui parar no hospital”, disse.
Apesar de tentar ajudar a recuperar o filho e colocá-lo numa clínica, ela afirma não ser conivente com o seu comportamento.
“Eu acho que isso aí é coisa do diabo, sabe. Como é que pode sair por aí esfaqueando os outros desse jeito? Eu não cubro erro de ninguém. Não acho correto o que ele fez, mas tenho que ajudá-lo”, pondera.
Uilker Alves foi preso suspeito de invadir igreja e esfaquear fieis, em Aparecida de Goiânia — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Em nota, a igreja disse estar “triste” em relação ao ocorrido e afirmou que “está dando apoio àqueles que estiveram presentes durante o incidente e estamos orando por todos os envolvidos”. A instituição afirmou ser reconhecida no Brasil desde 1930 e ter mais de 1,5 milhão de membros no país.
Dos quatro feridos, dois foram socorridos e já tiveram alta. Deide Agripino Cardoso segue internado no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). Segundo divulgou a unidade de saúde na manhã desta terça-feira, o quadro dele é considerado regular.
Outro ferido, Wilson Alves Batista, que usou uma muleta para conter o agressor, também está internado, mas no Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia (Huapa). Até a tarde segunda-feira (3), o quadro dele era considerado regular.
De acordo com a costureira, o filho começou a apresenta sintomas da esquizofrenia desde os 13 anos, mas que somente em 2017, ela conseguiu um laudo confirmando a doença. Ele chegou a ficar internado em uma clínica, mas foi liberado há cerca de um ano.
“Depois de um tempo na clínica, ele fica ótimo. Mas depois é inesperado, na mesma hora que está muito bem, começa a ficar agressivo. Ele começa a agir de forma estranha”, pontua.
Eulice afirmou também que o filho precisa tomar uma medicação por causa da doença, mas não o faz deliberadamente. Para que ele não fique sem o tratamento, a mãe revela que dissolve as pílulas no suco.
O delegado Divino Batista dos Santos, responsável pelo caso, disse ao G1 que ainda não teve acesso ao laudo citado.
Homem esfaqueia fiéis na Igreja Jesus Cristo dos Últimos Dias, em Aparecida de Goiânia — Foto: Henrique Ramos/ TV Anhanguera
Terrorismo
Segundo o delegado Divino Batista Santos, responsável pelo caso, Uilker pode responder por terrorismo. Ele já ouviu o suspeito e agora vai intimar testemunhas para descobrir a real motivação para o crime.
“O crime que ele pode responder, além das quatro tentativas de homicídio, seria o ato de terrorismo. Se ficar provado que ele agiu exclusivamente por questão religiosa, tendo convicção que aquela igreja pregava coisas diferentes do que ele acredita, com a finalidade de provocar clamor social e se vingar daquela religião, ele vai responder por ato de terrorismo”, disse.
O crime de terrorismo está previsto na Lei 13.260 do Código Penal e inclui crimes praticados por “xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia ou religião”. A pena varia de 12 a 30 anos em caso de condenação.
Ataque e confissão
Segundo as investigações, Uilker entrou com duas facas na igreja. Cerca de 120 pessoas participavam de uma reunião no momento. Testemunhas disseram que ele chegou a se sentar em um dos bancos, mas pouco depois começou a esfaquear algumas pessoas.
Em um vídeo, gravado após a prisão, Uilker aparece algemado, sentado no chão e com um curativo na cabeça.
“Assisti a um vídeo que fala que aquela igreja lá eles negam o nascimento de Jesus Cristo, e fala que, na primeira batalha contra Lúcifer, fala que Jesus Cristo colocou a maldição no corpo da pele escura e, depois que ele morreu na cruz, ele jogou a maldição da calvície sobre o povo.”