Os Paralamas do Sucesso em Goianésia

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A cidade de Goianésia, na região do Vale do São Patrício, cedia nos dias 20, 21 e 22 de abril o 17o. Encontro de Motociclista, que acontece no Parque da Lagoa.

O evento é organizado pela Secretaria Municipal  de Esportes, Juventude e Lazer terá diversas atrações musicais, como os Paralamas do Sucesso.

História dos Paralamas 

A história de uma grande banda costuma ter o espírito da sua época. Ao mesmo tempo em que conta algo que só estava no ar, ajuda a ter mais clareza do escondido nas entrelinhas do cotidiano. Se uns meninos que começaram a fazer rock no Brasil na década de 80 entraram na música brasileira pra sempre, os Paralamas do Sucesso estão entre os culpados. E estão soltos por aí pra contar a história.

Em entrevistas, em covers ao vivo ou em qualquer oportunidade que houvesse lá no começo, os Paralamas falavam dos amigos de Brasília e dos moleques que também tinham banda pelo Brasil… Da primeira entrevista na Rádio Fluminense até o palco do Rock in Rio, eles passaram de anônimos a promessa. Vital e sua moto se transformou em um dos primeiros hits daquela geração e lhes rendeu o convite para gravar um disco. E a turma foi junto, afinal estava lá uma música de Renato Russo. Outros punks e new wavers entraram no circuito até então dominado por cariocas e ajudaram a ampliar fronteiras.

Aliás, já que se falou em Rock in Rio, também tinham sido os Paralamas a puxar a curiosidade para as bandas nacionais do maior evento que o show business brasileiro já tinha vivido. Dali pra frente, os palcos melhoraram, as turnês cresceram, as rádios deram espaço e a TV se abriu a toda uma nova cultura jovem.

Havia um novo país nascendo dos escombros da ditadura, que queria a própria trilha sonora. Depois do bom lançamento de “Cinema Mudo”, da série de hits e sucessos que vieram a reboque de “O Passo do Lui” e da apresentação histórica no Rock In Rio, veio “Selvagem?”. E aí, o patamar subiu sério.

É ou não é pioneirismo lançar um álbum brasileiro pop em plenos anos 80 com sonoridades brasileiras e caribenhas – sobretudo jamaicanas? Ali, os Paralamas colocavam os primeiros tijolos do que ainda demoraria uma década para ser completamente analisado e entendido. Mas pode chamar de “entrar para a história”. Nessa busca, eles ainda encontraram uma forma de ser mais populares, de fazer o rock nacional ir além da classe média e, ao mesmo tempo, de torná-lo música de exportação.

Turnês pela América Latina e pelos Estados Unidos fizeram dos Paralamas a primeira banda brasileira reconhecida internacionalmente. E nessa, eles foram parar no tradicionalíssimo Festival de Montreux. Dessa apresentação, tiraram o disco “D” – o primeiro de uma série de ao vivos.

E veio “Bora-Bora”. Abriu-se outro caminho sem volta: mudaram ainda mais a linguagem pop brasileira e oficializaram o naipe de metais. Além disso, radicalizaram de vez na fusão com sons afro-caribenhos. Os arranjos mudaram, as dinâmicas de palco também e, de quebra, eles ainda ofereciam a primeira leva de canções de dor-de-cotovelo, ressentimento e mágoas de amor. Os cacos de um coração estilhaçado afiavam a pena de Herbert e o tornavam um compositor para se levar a sério.

“Big Bang” veio na sequência para tentar explodir o que havia em volta. Herbert seguia remoendo dores amorosas e ainda aproveitava para cantar o jeito brasileiro – não necessariamente o jeitinho – de sobreviver em tempos desleais. A hiperinflação dos anos Sarney, as primeiras desconfianças sobre o regime democrático e a coletiva falta de rumo asfixiavam aquela geração que, anos antes, cantava a esperança no futuro. Mais uma vez, eles eram a voz dos seus contemporâneos. A geração deles pensava o Brasil – também – pelos Paralamas.

Virada a década de 80, a desilusão chegou ao talo em “Os grãos”. O país – apesar de collorido – estava sem cor, como a capa do disco. Depois de seis álbuns lançados em oito anos de carreira, viria a ânsia de se renovar e se expor ao risco, como tinham feito Beatles, Stones, Beach Boys e todas as outras bandas que se tornaram maiores que a vida. Programações eletrônicas e samples poderiam soar quase ofensivos quando a banda envolvida tinha Herbert, Bi e Barone. Só que os limites precisavam ser testados. No aperto, foram nossos hermanos argentinos que deram uma margem para a ousadia e bancaram algumas contas. O clima de recessão, que só se encerraria com o Plano Real do fim do governo Itamar, definitivamente não parecia combinar com aqueles riscos todos. As baixas vendas de “Os Grãos” e os questionamentos da imprensa nacional não os fizeram aliviar.

Na sequência, veio “Severino”, ainda mais duro e abstrato. Novos experimentos eletrônicos. Rock cru. A Argentina tinha abraçado os caras e, como resposta a nós mesmos, eles apontavam para um certo sertanismo: seco como a caatinga, frio como a Inglaterra onde foi mixado. Tom Zé e Brian May. Linton Kwesi Johnson e Cabral de Melo Neto. Poucos ouviram o disco, mas os shows lotaram.

Foi da força vital de tocar ao vivo que os Paralamas se reconstruíram. Quando o Brasil começava a abrir espaço para novos grupos, de uma nova geração, chegou o segundo disco de show, “Vamo Batê Lata”. Quase um milhão de discos vendidos depois, eles estavam de volta para capitanear a nau renovada do rock nacional. Novos garotos e garotas eram apresentados a um repertório que tinha estourado quando eles ainda estavam nascendo.

O setlist paralâmico só se ampliava. Tocaram Raimundos e Chico Science. Tocaram com o Skank e com o Pato Fu. E mais uma vez eram os caras que apresentavam os novos ares da música pop brasileira. Olhando pra frente, lançaram junto ao disco do show um EP de quatro faixas inéditas. Meteram o dedo na cara do congresso com 300 Picaretas (foram censurados em plena democracia!) e voltaram às paradas de rádio e MTV com Uma Brasileira.

Pra quem ainda não tinha percebido outra virada, a confirmação chegou com “9 Luas” e “Hey Na Na”, discos tão brasileiros quanto “Selvagem?”, de dez e doze anos antes. Só que mais maturados, menos atrevidos. Uma ideia de Brasil mais assumida podia ser agora mais bem recebida. Ora, a banda e o país tinham mudado com Fernando Henrique. E adivinha se o mergulho na poeira surrealista de “Severino” não estava na origem desse amadurecimento? Fora o maracatu de Chico Science e o forró dos Raimundos.

Quando o formato acústico já começava a dar sinais de cansaço, os discos ao vivo viravam caça-níqueis feitos às pressas e as coletâneas tomavam conta de uma indústria fonográfica que não tinha como saber que o precipício estava logo ali, eles aceitaram um convite. No “Acústico MTV”, os Paralamas fugiram de naipes de cordas e outras receitas do sucesso. De extra, só Dado Villa-Lobos, mais um guitarrista, mas no violão. Deixaram os hits de lado e optaram por uma porção de lados-b. Testaram o repertório em shows supresas em casas pequenas. E na hora de gravar, em vez de um teatro centenário, um parque. Deu certo.
Passado o sucesso da turnê, do que não deixou de ser o terceiro disco ao vivo deles, foi natural esperar por uma reinvenção, outra vez. O problema é que ninguém imaginava que ali, essa expectativa viraria a única saída.

Foi um longo caminho até a volta ao estúdio em 2002. A perda de Lucy, do movimento das pernas e de parte da memória, obrigou Herbert e todos ao redor a redimensionar gestos que, antes, pareciam banais. As histórias de como a amizade de Bi e Barone e dos estímulos à memória pela música e pelo afeto foram fundamentais à recuperação são emocionantes. O acidente de ultraleve em fevereiro de 2001 fez banda, músicos de apoio, amigos e fãs refletirem. Até a esperarem pelo pior. E aprender que a arte de viver da fé, quando se sabe a fé em quê, salva. Outro nome para isso seria amor. O amor salvou Herbert e os Paralamas.

“Longo Caminho”, o primeiro álbum pós-acidente, mostrou onde a banda estava antes da pausa. Uma turnê visceral cortou o país para celebrar a vida. Cercados de amigos, no palco e na plateia, lançaram o CD e DVD “Uns dias”. Disco de estúdio, disco ao vivo e DVD – tudo junto e muito intenso. Viraria rotina, a partir daí. A época era de buscar alternativas, de muita informação e compartilhação. A música viveu essas crises tecnológicas e internéticas antes das outras indústrias. E os Paralamas, claro, passaram por isso.

Sem parar, emendaram no álbum “Hoje”, que comprovou que a capacidade criativa dos três permanecia intacta e pulsante. O que não faltava eram guitarras distorcidas.

Em seguida, mais festa. O sucesso da celebração de 25 anos de carreira, em um projeto conjunto com os camaradas dos Titãs, foi um atestado de sanidade de toda aquela geração que, no início da década de 80, fez o novo acontecer e, a partir dali, escreveu a própria história…
Com “Brasil Afora”, os Paralamas trouxeram a estrada para as letras, para a cenografia, para o imaginário e para a prática. Como é que eles não tinham pensado nisso antes? A banda que sobrevive de amizade e som, só sabe que a receita dá certo porque ela é testada no asfalto quente. O interior do país ganhava poder de compra, a desigualdade diminuía e os Paralamas estavam falando disso. E, claro, levando tudo para o palco.

O show virou, via Multishow, um novo disco ao vivo e um DVD. E Zé Ramalho e Pitty entraram na roda dos amigos que a banda trazia pra perto.

A onda da estrada contagiou, e a data redonda de 30 anos mereceu a comemoração mais óbvia e natural: uma turnê. Quem começou aos 20 e poucos sonhando em tocar naquele tal palco do Circo Voador tinha que reencontrar aquela galera dos primeiros shows, a galera dos primeiros ingressos, de quem tinha estreado a vitrola com um LP daquele rock de bermuda. Um telão de led passava tudo enquanto eles tocavam tudo. Tanta definição ficou embaçada nas lágrimas que escorriam de casais há anos sem sair pra um show de rock, a pais que nunca tinham ficado da mesma idade dos filhos por uma noite. Foi emocionante, e se você duvida é só assistir ao “Multishow Ao Vivo – 30 Anos”, show e documentário que saíram em DVD e programa de TV.

A caixa de vinte CDs – dois inéditos, um com músicas cantadas em castelhano e outro de versões nunca lançadas – fecha mais um ciclo. Trinta anos se foram. Ser a banda mais longeva do Brasil sem mudar de formação impõe desafios e responsabilidades. Ser relevante e ser divertido, provar que a fonte da eternidade que é o rock só funciona para quem respeita a própria história na medida certa – que é no movimento do som, da dança, da estrada e do tempo.

O que os Paralamas estão preparando pra gente? Que Brasil é esse que eles vão explicar do jeito deles? A gente tá louco pra descobrir.

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